Combate e Prevenção ao Suicídio

Ao abordar o tema suicídio geralmente ouvimos: se falarmos sobre isso vamos encorajar alguém a fazer ou quem fala e ameaça não faz de verdade ou somente alguém com transtorno mental comete suicídio, e outras colocações semelhantes. Se você pensa assim então começo com: você está enganado!! Não é bem assim pessoal e ao logo da conversa acredito que você entenda o que estou afirmando…

Não devemos de ter medo de abordar o assunto, ao contrário, precisamos conversar muito a respeito para encarar o problema de frente e encontrar soluções.

O suicídio é um gesto de autodestruição que faz parte da natureza humana, porém é mais comum nas pessoas exaustas por dentro e que se encontram emocionalmente fragilizadas.

Caso você ainda esteja se questionando do porquê falar sobre isso, saiba que a cada 40 segundos ocorre um suicídio no mundo. Conforme divulgação da Organização Mundial de Saúde em 2016, referente dados de 2012, por ano são aproximadamente 1 milhão de pessoas que tiram a própria vida! Triste realidade.

A situação é tão delicada que a OMS informa que de um total de 172 países membros eles consideram apenas 60 que enviaram dados de boa qualidade, sendo em sua maioria de nações desenvolvidas. Porém é justamente nos 112 países restantes que se encontram 78% dos suicídios registrados no mundo.

As taxas de suicídio no Brasil tem aumentado a cada ano e espera-se que não havendo uma mudança mundial logo a cada 20 segundos haverá alguém tirando a própria vida. No Brasil diariamente 32 pessoas se matam a cada 45 minutos. E pior: estima-se que para cada pessoa que comete suicídio existem pelo menos outras 20 que tentaram sem sucesso.

Podemos considerá-lo um problema de saúde pública, não só por sua dimensão, mas pelos problemas gerados na família e todos que cercam a pessoa que age contra a própria vida. Estima-se que de cada suicídio em torno de 6 a 10 outras pessoas sejam diretamente impactadas, sofrendo consequências de difícil reparação.

Quê? Como assim? Vamos pensar juntos. Um conhecido ou familiar comete suicídio. Primeiro pensamento: por quê? Mais dúvidas: Como não avisou? Por que eu não percebi antes? E se eu houvesse conversado com ele ou feito…? E assim muitas questões a atormentar e tentar preencher o buraco que a pessoa deixou em nossas vidas e emoções. Com isso podem surgir sentimentos de raiva, impotência, tristeza, culpa e muitos outros.

É preciso compreender que não é verdade que o suicida necessariamente tenha um transtorno mental, isso pode ou não ocorrer. A ideia suicida por ter surgido por exemplo a partir de algum momento crítico na vida da pessoa, sem qualquer presença de transtorno mental.

Para visualizar a gravidade do problema saiba que numa sala com por exemplo 30 pessoas, cinco delas já pensaram em suicídio. E ainda se estima que as tentativas de suicídio superem o número de suicídios em pelo menos dez vezes.

Vários motivos podem levar alguém ao suicídio, mas geralmente a pessoa quer aliviar pressões externas e um enorme sofrimento interno. Ela encontra-se num sentimento de ambivalência, com sentimentos e ideias que conflitam entre si. Sente-se só e ignorada. Há grande vontade de desaparecer, fugir ou de ir para algum lugar ou situação melhor do que a que se encontra. Há grande necessidade de alcançar paz e um fim para os seus sofrimentos que parecem intermináveis. Nem sempre ele quer ‘morrer’, mas acabar com a dor, ou como ouvi de uma cliente que tentou se matar com medicamentos, num momento de crise, a ideia era dormir e não acordar para deixar de sentir o que a atormentava e parecia interminável. A dor e angústia são insuportáveis. Irracional? Quem disse que as emoções podem ser racionalizadas assim… Elas são sentidas, vividas… e podem ser trabalhadas com ajuda adequada.

Ao receber ajuda preventiva ou uma oferta de socorro durante uma crise podemos reverter essa situação. A vontade de viver aparece resistindo ao desejo de se autodestruir. Mas precisam encontrar alguém disposto a ouvir e compreender os seus sentimentos. Ai está a grande dificuldade da atualidade! Pessoas dispostas a ouvirem, sem julgamentos ou críticas…

Ao nos disponibilizar a ajudar não precisamos nos preocupar com o que dizer. Calma. É só ouvir. Mas esteja preparado. No máximo questione o que pode fazer para ajudar.

A OMS afirma que 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos caso haja oferta de ajuda. Fazemos a nossa parte?

No consultório já recebi inúmeros clientes desesperados para exporem suas dores e sofrimentos. Sentindo-se sozinhos e sem alternativas. Vocês devem pensar “ah não ter famílias coitados…”. Sinto muito, mas têm sim. Famílias muitas vezes completas, mas indispostos a ouvir e compreender o que a pessoa tem a dizer. Na maioria das vezes julgam que a pessoa exagera nas emoções, sofrimentos, que a vida é assim mesmo, que ela precisa ser forte, que vai passar etc. Colocações que pioram os sentimentos da pessoa, a fazem se sentir mais frágil, inútil e incompetente para viver.

Simbora compreender um pouco mais sobre o risco para suicídio. Há alguns fatores que representam um risco para pessoa, como transtornos mentais, condições psicológicas e sociodemográficas da pessoa, algumas condições clínicas incapacitantes e a pessoa já ter histórico de tentativa de suicídio. Além disso, pode haver uma perda recente importante (morte, financeira, trabalho, etc), histórico familiar de suicídio.

Há alguma característica que possamos identificar nas pessoas em risco? Sim. Elas querem morrer e sobreviver, numa verdadeira luta entre o desejo de viver e o de acabar com a sua dor psíquica e emocional. Há um impulso de cometer suicídio que pode ser transitório ou durar horas e dias. Impulso este desencadeado normalmente por eventos negativos do seu dia a dia. Ela funciona no modo tudo ou nada, ou seja, pensa que a morte é a única solução para os seus problemas.

Você deve estar pensando, então lascou…, mas calma, ela emitirá alguns sinais que podemos observar e ajudar de alguma forma:

– Podem apresentar um comportamento retraído e com pouca interação social

– Sinais de ansiedade ou pânico

– Mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia

– Mudança no hábito alimentar e de sono

– Alcoolismo ou uso de outras substâncias

– Odiar-se e sentir-se sem valor ou com vergonha

– Sentimento de culpa

– Desejo súbito de concluir os seus afazeres pessoais, organizar documentos, fazer um testamento etc.

– Escrever cartas de despedida ou fazer posts de despedida e pedidos de desculpas

– Fazer repetida menção de morte ou suicídio.

Além disso nós também identificamos a ideação suicida através de frases como: “Eu preferia estar morto…”, “Eu não posso fazer mais nada”, “Eu não aguento mais”, “Vão ser mais felizes sem mim”, etc.

Há quatro sentimentos nas pessoas que pensam em suicídio, são os quatro D’s: depressão, desamparo, desesperança e desespero.

Por tudo isso a ameaça de suicídio deve sempre ser levada a sério. Não pense ser apenas uma forma de chamar a atenção ou manipular. Não se pode evitar todos os suicídios, mas os que podem ser evitados. Já sabemos que ao menos dois terços de quem tentou se matar comunicaram sua intenção de alguma maneira para amigos, familiares ou conhecidos.

E nós, podemos ajudar. Como? Primeiro encontre um lugar adequado e ouça a pessoa. Reserve um tempo necessário e a deixe expor o que sente, tratando-a com respeito.

Não a julgue e também não precisa dizer nada. Tenha empatia com as suas emoções. Não diminua os seus problemas e dores tipo: nossa você quer se matar por isso? Ah, a vida é assim, que exagero, etc. Escute-a. Simples assim.

Não a interrompa ou faça perguntas indiscretas. Cuidado com a curiosidade. O objetivo é ajudar, lembre-se disso.

Tente não parecer chocado ou muito emocionado com o que ela contou.

Cuidado com o sigilo e privacidade da pessoa. De forma alguma exponha o que ouviu para outra pessoa. Caso ache necessário dividir o que ouviu com alguém para preservar a sua vida avise-a e explique a importância dela concordar com a exposição.

Caso você perceba que o risco é alto a pessoa não poderá ficar só e todos os meios de cometer suicídio precisarão ser removidos.

Porém sozinho não será possível ajudá-la a longo prazo. Há necessidade de um acompanhamento multiprofissional, com psicólogo e psiquiatra. Além de apoio e orientação familiar. Mas até nesse processo pode-se ajudar. Já tive clientes que tinham dificuldades de ir ao médico e não conseguiam alguém que simplesmente as acompanhasse numa consulta

Será preciso explorar com a pessoa outras saídas além do suicídio. Ela compreenderá que não está sozinha, que não é o fim e que ela pode sim superar a situação.

Jussara B. Dantas<BR>Psicóloga<BR>CRP: 06/54791-7

Jussara B. Dantas
Psicóloga
CRP: 06/54791-7

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